O mistério de descobrir a quem pertencia uma cabeça mumificada há mais de quatro mil anos foi desvendado com a colaboração do egresso do curso de Medicina, Fábio Pereira Nunes, na época médico pesquisador em Massachusetts General Hospital. Em 1915, uma cabeça decepada de múmia foi descoberta no canto de uma tumba saqueada na antiga necrópole egípcia de Deir el-Bersha e, desde então, os arqueólogos estavam intrigados com a sua identidade. O caso foi reaberto em 2000, quando representantes do Museu de Belas Artes de Boston, onde a peça ficava exposta, lançaram a missão de resolver o mistério da identidade da múmia entrando em contato com o Massachusetts General Hospital.
Foi quando Fábio, que estava trabalhando em Boston, foi convidado para ajudar na pesquisa. Tentavam procurar algum material que pudesse ajudar na diferenciação e identificação do DNA. Em 2005, o hospital realizou uma tomografia computadorizada na múmia, mas não conseguiu determinar se era do sexo masculino ou feminino. Foi então que tiveram a ideia de retirar um dente que parecia estar inteiro.
“O interessante foi retirar uma mostra de uma múmia, que está toda coberta com tecidos, sem poder abrir essa cabeça nem tocar no material, pois do contrário causaria contaminação com outro DNA. O objetivo era manter a mostra de DNA preservada. Esse processo envolveu os departamentos de radiologia, neurocirurgia e genética do hospital, e juntos fizemos uma tomografia da cabeça da múmia, a reconstruímos em 3D e conseguimos retirar um dente entrando por debaixo do pescoço, indo por detrás da boca e mantendo-o completamente protegido”, detalhou Fábio.
Desde a extração do dente, seguido das técnicas científicas desenvolvidas pelo laboratório do FBI nos processos de análise, foram cerca de nove anos até obter o resultado. Agora, quase 100 anos depois de ser encontrada, eles podem dizer definitivamente que a cabeça era do sexo masculino e que pertencia a um governador do Egito na época. Para Fábio, a descoberta foi muito importante porque mostra aos técnicos do FBI a possibilidade que se tem em identificar o DNA de outras situações que envolvem materiais também deteriorados. A pesquisa foi publicada, em 2018, na revista Genes e ganhou destaque em veículos como “The New York Times” e a “CNN”.